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O surto midiático de domingo 15, idos de março

Por FC Leite Filho, Blog Café na Política

O surto deste domingo, 15 de março, o aziago idos de março, como retratado na célebre peça Júlio César, de Shakespeare, pode ter levado a convicção aos mais incautos de que o governo Dilma, contra o qual assestou suas baterias, foi golpeado de morte.

Esta foi também a impressão à primeira vista da arremetida midiática conduzida pelo jornal Clarín (O Globo e a Globo de lá) contra a presidenta Cristina Kirchner, com a “marcha do silêncio” de 18 de fevereiro: uma multidão de um milhão pessoas inundou as ruas de Buenos Aires, Mar del Plata, Rosário e foi acompanhada de alguns adeptos que se reuniram em Nova York, Paris, Londres e até na Austrália. Alguma semelhança com o “Fora Dilma” de ontem?

A Casa Branca, dizia O Globo brasileiro, “monitorava a marcha” e manifestava preocupação com o destino das instituições platinas. Dez dias depois, em primeiro de março, 400 mil pessoas foram ouvir a mensagem anual da presidenta ao Congresso. Cristina tinha acabado de ser inocentada pela Justiça da acusação irresponsável de um procurador vinculado ao Clarín e à embaixada americana, Alberto Nisman. Nisman, encontrado morto em circunstâncias misteriosas, em 18 de janeiro, era o homenageado da manifestação anti-Cristina. Os inspiradores da marcha, promotores e procuradores, colegas de Nisman, foram depois desmascarados como envolvidos em processos de obstrução da justiça e acobertamento de crimes, inclusive do atentado à AMIA, instituição hebraica,no qual morreram 85 pessoas, no distante ano de 1994. Quanto à Cristina, retomou seu prestígio e poderá fazer sucessor na eleição de 20 de outubro.

Mas antes que examinemos outros quadros trágicos causados por essas ofensivas midiáticas, não esqueçamos de outro surto que fez retumbar a candidatura de Marina Silva, da Rede Sustentabilidade, no bojo da comoção causada pela morte do outro candidato, Eduardo Campos, do PSB, em agosto de 2014. Os mesmos crédulos das mistificações da mídia acreditavam na “vitória inescapável” de Marina sobre Dilma, do PT, a presidenta que se candidatava à reeleição.

Menos de um mês depois, o vertiginoso prestígio de Marina, não resistiu às denúncias de irregularidades em suas contas bancárias e vinculação com o capital estrangeiro, marteladas sobretudo nas redes sociais (Era a primeira vez que a internet conseguia fazer face a um massacre da mídia), a candidata com jeito de santa, como dizia a Veja, entrava em parafuso. Chegada a eleição de primeiro turno, Marina foi fragorosamente derrotada, alcançando o terceiro lugar. Como o segundo lugar ficou com Aécio Neves, do PSDB, outro candidato afável aos barões da imprensa, a mídia comandou um outro arranco para fazer do ex-governador mineiro, como o candidato que arrasaria com Dilma e o PT. Dilma ganhou e o surto midiático dissolveu-se como gelo.

Agora, a grande imprensa, acolitada pelo capital estrangeiro, o mesmo que acicata Cristina, Maduro e Rafael Correa, lança-se a uma nova ofensiva para, sem rebuços, derrocar o governo brasileiro legitimamente eleito e apenas com dois meses de um mandato de quatro anos, através de uma série de manifestações, inicialmente pacíficas, mas que podem degenerar em violência ou mesmo em golpe de Estado, congressual, judicial ou militar. Eles já viram que não podem com Cristina nem com Maduro, mas encontram um flanco aberto em Dilma, que até aqui não se preocupou em construir uma militância orgânica e uma mídia própria.

O blogueiro Plínio Zúnica, do blog Descolonizadores, a meu ver o observador mais arguto da manifestação do domingo, advertiu: “É um erro grande da Esquerda achar que esse é um movimento feito só por grupos de elite. A ideologia é da elite, os interesses são da elite, o dinheiro é da elite, os porta-vozes são da pior das elites, mas essa ideologia é ardilosa o suficiente pra infectar as mentes de todas as camadas sociais”.

Zúnica ainda assinala :”É uma ideologia baseada em medo, ódio e ignorância, e infelizmente esses elementos têm uma força de mobilização muito poderosa, mais do que a razão e a solidariedade. Não fosse assim, teria sido o movimento hippie a dominar o mundo, e não ideologias fascistas, imperialistas, colonialistas, eugenistas e elitistas. Não subestimem o poder do ódio, do medo e da ignorância. Não faltam exemplos do estrago que eles são capazes de fazer nas pessoas mais bem intencionadas”.

A conclusão do blogueiro, de quem emprestamos a foto que ilustra esta análise, é muito ilustrativa: “Eu tive dezenas de conversas com gente de todo o tipo nos últimos meses, e o ponto em comum é que a maioria das pessoas não faz ideia do que reclamar. Falam de uma corrupção que não sabem o que é, não sabem diferenciar o que é uma presidenta da Republica do que é uma rainha absolutista, não fazem ideia do que são as atribuições de cada esfera do governo. Gente que não conhece história, que não sabe o que foi o Collor,que não sabe o que foi a ditadura, que não sabe o que foi a era FHC, que não entende os programas mais simples e básicos do governo do PT. Gente botando a culpa até dos serviços de telefone nas costas da Dilma”, diz ele.

Sem dúvida, Zúnica se referia às tragédias produzidas, inclusive devido à desinformação, pelos surtos midiáticos do passado, como a deposição dos presidentes constitucionais do Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, a partir de 1964, seguida da instauração de 20 anos de ditaduras responsáveis por milhares de mortes e o desmantelo do parque industrial e tecnológico da maioria dos países latino-americanos.

É verdade que, nessa época, nosso país e nossos vizinhos estavam desarticulados. Viviam de costas uns para os outros, enquanto os Estados Unidos os encabrestavam na imponente sede da OEA (Organização dos Estados Americanos), em Washington, e ordenavam seguir as receitas recessivas do FMI, expulsar Cuba do organismo, instalar ditaduras, e perseguir a dissidência, através de seus centros de tortura e laboratórios ideológicos.

Hoje, temos a Unasul (União das Nações Sul Americanas), com sede em Quito, no Equador, e livre da participação dos Estados Unidos (e do Canadá). Ela já impediu pelo menos dois golpes de Estado, suave ou brutal, na Bolívia (2009) e no Equador (2010). Agora, no último sábado, por exemplo, a instituição, idealizada por Hugo Chávez, os Kirchner e Lula, acaba de declarar solidariedade ao presidente Nicolás Maduro, cujo país, a Venezuela, está ameaçado de invasão militar pelos Estados Unidos.

Mas nem a Unasul será capaz de livrar Dilma de um golpe, se o governo e seu partido, o PT, não providenciarem urgentemente uma articulação comunicacional para defender-se. Daqui para a frente, os surtos midiáticos, fiel a seu histórico, tendem a endurecer e a fazer não mais manifestações pacíficas, mas sangrentas, com seus atiradores de elite apontando para a multidão e culpando o governo pelos crimes, como aconteceu no Chile de Allende, em 1973, na Venezuela de Chávez, em 2014, e na Venezuela de Maduro, agora mesmo em 2014.  

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